Até 2050, fatia da população mundial com mais de 60 anos quase dobrará
Samantha Flores estava com dificuldade de se movimentar pelo aeroporto: era complicado enxergar o que diziam as placas, os anúncios eram difíceis de ouvir e a correria à sua volta a fazia oscilar, apesar dos joelhos endurecidos. Por fim, aliviada, se dirigiu a um dos bancos para se sentar, recuperar o fôlego e tirar a “roupa de simulação de idade”.
Flores tem 32 anos e é diretora de projetos experimentais do escritório de arquitetura Corgan. O objetivo do traje de 14 quilos é ajudá-la a vivenciar os desafios físicos de se movimentar no mundo como uma pessoa de idade: os óculos especiais e os fones de ouvido são para “prejudicar” sua visão e sua audição; as luvas, para reduzir o tato e simular tremores; os sapatos pesados e os limitadores de movimentos de pescoço, cotovelo e joelho reforçam as restrições.
A medida, bem realista, é uma opção que os projetistas que trabalham com aeroportos e a indústria de viagens em geral estão começando a usar para saber como criar espaços para diferentes grupos demográficos – principalmente o dos idosos, que vêm crescendo rapidamente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a fatia da população mundial acima de 60 anos quase dobrará até 2050, subindo de 12 para 22 por cento. Nos EUA, o Censo calcula que, até 2035, o número de pessoas acima de 65 anos superará o de crianças pela primeira vez.
Enquanto algumas adaptações para o viajante idoso parecem óbvias, como bancos dedicados às paradas frequentes para descanso, outras não são tão intuitivas. Uma pesquisa realizada pela Corgan descobriu que as pessoas de idade tendem a olhar para baixo quando caminham, o que significa que podem deixar de ver as placas informativas em um nível mais elevado; por isso, sugeriu a seus clientes que deixem as informações mais próximas do chão. Outra conclusão foi a de que o passageiro da 3ª idade geralmente vai direto para o portão de embarque para reduzir a ansiedade de perder o voo, ignorando assim os núcleos de compras e quiosques; a recomendação, portanto, é a de que as opções de alimentação fiquem mais próximas às áreas de embarque.
Para Donald P. Hoover, diretor associado da Faculdade Internacional de Hospitalidade e Gestão de Turismo da Universidade Fairleigh Dickinson, os setores de lazer e turismo só têm a ganhar concentrando-se nesse grupo. “Devem pensar nas deficiências relacionadas à idade e levá-las em consideração na hora de projetarem e criarem qualquer coisa associada com a experiência do público.”
E prossegue, afirmando que muitas das mudanças podem beneficiar os viajantes de todas as idades: nos hotéis ou aeroportos, por exemplo, encurtando o tempo passado na fila do check-in; treinando os funcionários para reconhecer e agir sobre as necessidades especiais de um hóspede/passageiro; criando sites mais simples e banheiros ergométricos. Tudo isso pode resultar em experiências melhores para todos.
É verdade que algumas adaptações são mais técnicas. Alguns aeroportos começaram a instalar sistemas especiais que fazem os anúncios diretamente ao receptor do telecoil no aparelho auditivo do usuário, permitindo a quem necessita desse tipo de equipamento um entendimento mais claro das informações no portão de embarque – entre eles o de Detroit e Rochester, em Nova York.
Por fim, aconselhou os aeroportos a eliminar os pisos brilhantes, uma vez que dão a impressão de estarem molhados e deixam as pessoas com medo de cair.
Fonte: Exame